“E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.” (Lucas 15:12-13)
“E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.” (Lucas 15:20-24)
A parábola do filho pródigo é uma das mais conhecidas da Bíblia. Nela, um jovem pede parte da sua herança antes de sair de casa. Na cultura daquela época, quando um filho recebia a herança em vida, os demais também tinham de receber.
No texto, o filho mais velho é quem recebe a herança em maior parte. Já o filho jovem recebe uma parte menor. O mais velho fica em casa com o pai, mas o mais novo pega sua parte e gasta tudo e, um tempo depois, retorna para a casa do pai.
Até hoje é estranho para nós ver alguém pedindo a sua parte da herança de outra pessoa viva. O natural é que isso ocorra só após a morte. Na parábola, uma das interpretações que podemos fazer a respeito do filho mais novo é a de que seu pai já tinha morrido em seu coração e por isso ele pediu a herança antes do tempo. Os motivos nós não sabemos, mas a verdade é que quando você mata alguém em seu coração, quem morre primeiro é você.
Você não é obrigado a conviver com pessoas que te feriram e te fizeram mal, porém, você também não pode fazer do seu coração um aterro sanitário, um sepulcro de morte em que você carrega essas pessoas e as marcas do que elas fizeram a você. A ausência de perdão é hoje uma das coisas que mais afetam os relacionamentos. É necessário decidir perdoar. Perdão não é sentimento, é um ato de obediência à uma ordem bíblica para nossa vida cotidiana.
Perdoar significa reconhecer que só Deus tem o poder de nos julgar. Ainda na parábola do filho pródigo, é interessante perceber que o irmão mais velho não consegue chamar o pai de pai. E também não chama o irmão de irmão. “Esse teu filho gastou dinheiro com meretrizes”, disse ele ao pai sobre o irmão mais novo. O detalhe é que à essa altura ele ainda não havia se encontrado pessoalmente com o irmão. A acusação feita era, portanto, fruto de uma projeção.
Quando o filho pródigo retorna, ele declara que não deseja nem merece mais ser chamado de filho, expressando seu desejo de se tornar um servo. A palavra servo em grego é “dulus”, que refere-se ao escravo que trabalha descalço, ao funcionário sem privilégios. Apesar disso, o pai ordena que os empregados tragam sandálias para o filho. Nesse momento, sem palavras, podemos perceber o diálogo implícito:
– Pai, eu não posso, não quero mais ser considerado seu filho.
– Mesmo que você não queira ser meu filho, eu jamais deixarei de ser seu pai.
Isso é perdão, é conceder liberdade ao outro. É amar aquele que não merece, pois é quando menos merecemos ser amados que mais precisamos de amor. Às vezes, Deus coloca pessoas difíceis ao nosso lado para nos ensinar a amar. Em vez de guardar rancor e mágoa, devemos amar.
Permita que a graça de Deus permeie seu coração e invada sua alma para que você consiga amar as pessoas. Perdoar é amar a fragilidade do outro, é amar o infiel, é presentear o indigno. Perdoar é anular as dívidas e eliminar as cobranças. Aquele que não perdoa dorme com o inimigo todos os dias. Perdoar não é esquecer, é lembrar sem sentir dor.
Quando alguém cai, muitos apontam o dedo, mas poucos estendem a mão para ajudar. Temos grande dificuldade em oferecer auxílio. No casamento, seu cônjuge irá falhar com você várias vezes; seus filhos e outras pessoas também irão falhar.
Se você guardar rancor e amargura em sua bagagem, será difícil percorrer o caminho da vida, pois ficará sobrecarregado. Com quem você não fala há algum tempo? Talvez você tenha dificuldade em perdoar. Eu mesmo sei o quão difícil é perdoar. Perdoar é reconhecer nossas próprias imperfeições. É admitir que também precisamos de perdão, que somos pecadores. Perdoar é oferecer amor mesmo quando ele não é merecido.
Li em um dos livros do C.S. Lewis que o perdão é uma ideia maravilhosa, até que você precise perdoar alguém. É um desafio que vai além dos sentimentos. É uma decisão. Se você escolher obedecer à palavra e seguir o que a Bíblia ensina, será obrigado a perdoar, mesmo que o outro não peça perdão. Quem perdoa é vitorioso. Perdoar é agir de acordo com o caráter de Deus.
Perdoar o próximo
“E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas.” (Marcos 11:25-26)
A condição do perdão de Deus para nós é perdoar o próximo. Se você está precisando de ajuda para perdoar alguém, abra seu coração para que o Espírito Santo possa agir por meio de outras pessoas, orações e conselhos. Busque na Bíblia Sagrada outros textos que falam sobre o perdão e veja como Deus tratou a humanidade através desse princípio.
Observe a vida de José como exemplo. Ele poderia ter cultivado rancor e amargura por tudo o que seus irmãos fizeram contra ele. No entanto, ele escolheu perdoar.
A história de uma nação inteira, Israel, passou por esse jovem que tinha poder e autoridade como governador do Egito. Mesmo tendo a oportunidade de se vingar, ele optou pelo perdão, demonstrando afeto, abraçando, beijando e presenteando. Ele compreendeu que tudo o que havia acontecido tinha um propósito divino.
Você tem conseguido perdoar? Está triste e chateado com seu cônjuge por causa de uma infidelidade, traição ou algum acontecimento passado? Que tal limpar seu coração? Peça ao Espírito Santo de Deus para curar sua alma. Permitir que a amargura se instale em você vai te consumir e destruir seu casamento. Essa tristeza em sua alma pode ser superada. Deus tem o poder de te curar. Tome essa decisão em prol de sua vida.
Deixar voar
Perdoar é deixar voar.
Certa vez, Pedro questionou Jesus sobre o número de vezes que deveria perdoar seu irmão, e sugeriu que sete vezes seria até muita coisa. Jesus respondeu, no entanto, que o perdão deve ultrapassar esse limite e ser concedido setenta vezes sete.
Ele usou essa hipérbole — figura de linguagem que busca exagerar — para enfatizar que o perdão deve ser ilimitado, excedendo as medidas da matemática. Ou seja, algo impossível de ser quantificado. Quando alguém age em conformidade com o caráter de Deus, esse perdão é incondicional.
Uma analogia interessante é a navegação antiga em navios à vela. Cada vela tinha um marinheiro encarregado de ajustá-la, esticando ou afrouxando as cordas conforme necessário. Quando o vento era forte demais, o capitão ordenava ao marinheiro: “perdoa”, significando que ele deveria soltar um pouco a corda para permitir que o vento passasse.
Essa prática era essencial para evitar danos à vela e ao navio. Da mesma forma, devemos permitir que o vento do perdão sopre em nossas vidas. Devemos evitar o enrijecimento e a rigidez, pois essas atitudes podem destruir nossos relacionamentos e ferir não apenas a nós mesmos, mas também aqueles ao nosso redor. É importante deixar o rancor passar, deixar o perdão fluir livremente.
Você vai perceber que quando você deixa o outro voar quem fica livre é você. Perdão tem a ver com perda. Se analisarmos a palavra “perda” no diminutivo, temos “perdinha”, mas quando a colocamos no aumentativo, surge “perdão”. O perdão envolve uma grande perda.
Não fomos condicionados a lidar com perdas, apenas buscamos ganhar. Alguns afirmam que não conseguem perdoar porque o outro não merece. No entanto, é exatamente nesse ponto que o perdão se manifesta. Como mencionei anteriormente, quando alguém menos merece ser amado, é quando mais precisa de perdão.
Decida perdoar. Você pode não sentir vontade, mas, como um ser inteligente e com a ajuda de Deus, pode tomar essa decisão.
O perdão precede o milagre
Em Marcos 2, lemos que Jesus havia retornado à casa de Pedro, em Cafarnaum. Em pouco tempo de sua estada, a notícia sobre sua presença se espalhou rapidamente e as pessoas foram vê-lo. A casa ficou tão cheia, diz o texto, que não havia lugar nem do lado de fora da porta.
Enquanto Jesus pregava, quatro homens vieram carregando um paralítico numa maca. Ele queria ser curado. Fizeram um buraco no telhado e desceram-no bem na frente de Jesus. Ao ver a fé e a expectativa de milagre, a primeira frase que Jesus disse para aquele homem não foi “levanta e anda”, mas sim “perdoados estão os seus pecados”.
Ali estavam sentados alguns mestres da lei, eles arrazoavam em seus corações:
“Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” E Jesus, conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes disse: “Por que arrazoais sobre estas coisas em vossos corações? Qual é mais fácil? dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados; ou dizer-lhe: Levanta-te, e toma o teu leito, e anda?” (Marcos 2:6-9)
A grande verdade sobre este texto é que uma casa em que Jesus está presente precisa ter perdão antes de ter qualquer milagre. O perdão precede o milagre, pois não há nenhuma possibilidade de cura se a alma está amargurada. Sem liberar perdão, não há probabilidade de um lar ser feliz e edificado na rocha.
Livre
Na parábola do filho pródigo, mais uma vez, algo singelo sobre o retorno do filho é que o pai não apenas presenteia ele com um bezerro, um anel e uma túnica. O que me chama a atenção é o gesto de calçar-lhe as sandálias e dizer: “A partir de hoje, você é livre”.
Talvez você alegue ter perdoado e afirme que não sente mais nada, que tudo está bem. Você aceitou a pessoa de volta em casa, todos convivem juntos e até fizeram uma festa, assim como o pai da parábola. O Espírito Santo, todavia, deseja impactar o seu coração.
A pergunta é: você calçou as sandálias? Pois quando você deixa o outro descalço, ele continua escravo das suas ações passadas. Ao calçar as sandálias, você está dizendo: “Você é livre”. Como calçar as sandálias? Não se trata de esquecer, mas de lembrar sem sentir dor. Não retome o assunto, pois assim o outro continuará sendo escravo do passado.
Calce as sandálias, liberte o outro. Você perceberá que quem estará verdadeiramente livre é você. Pare de mencionar o que aconteceu, deixe o assunto no passado. O Espírito Santo pode curar o seu coração, pois perdoar é rasgar a promissória e eliminar as cobranças. Calçar as sandálias no outro significa dizer: “Nesta casa, você não é mais escravo das suas ações passadas, você é livre. Deus te fez livre”.
O perdão não é um mero sentimento, é uma decisão. É difícil, é ousado, mas quando você perdoa, está agindo de acordo com o caráter de Deus. Sua decisão de perdoar atrairá a presença de Deus para essa situação, Seu olhar compassivo e Suas mãos eternas. Não permita que seu casamento seja destruído por essa tristeza ou angústia. Calce as sandálias, perdoe!
COMO PERDOAR SEU CÔNJUGE QUANDO NÃO É FÁCIL
A Bíblia nos diz para perdoar incondicionalmente, mas não diz que devemos esquecer imediatamente. Às vezes leva tempo para reconstruir a confiança perdida.
Uma história bíblica que me marcou desde que eu era criança é a história de Pedro perguntando a Jesus quantas vezes ele deveria perdoar alguém que pecou contra ele. Jesus primeiro responde com o que parece ser um número absurdo de vezes – “setenta vezes sete” – e depois segue com uma parábola sobre o perdão (Mateus 18:21-35).
Ao ouvir essa história quando criança, pensei: “Cara, 490 vezes? Isso é muito perdão!” Mas, esse é o ponto, não é? Nunca devemos parar de perdoar. E Jesus deixa bem claro que, a menos que perdoemos os outros, nosso Pai celestial não nos perdoará (Mt 6:14-15; Mc 11:25).
Perdão vs. Esquecimento
Perdoar seu cônjuge não significa varrer os problemas para debaixo do tapete e dizer: “Obrigado por me avisar. Só não deixe isso acontecer de novo.” Perdão não significa “esquecimento”.
Ser perdoado não significa que seu cônjuge simplesmente esquecerá tudo o que exigiu o ato de perdoar. Dependendo da situação, pode ser necessário um tempo de cura, um tempo de reconstrução da confiança que você já teve.
Em seu livro Uma Vida com Propósitos, Rick Warren diz: “Muitas pessoas relutam em mostrar misericórdia porque não entendem a diferença entre confiança e perdão. Perdoar é deixar o passado para trás. A confiança tem a ver com o comportamento futuro. O perdão deve ser imediato, quer a pessoa o peça ou não. A confiança deve ser reconstruída ao longo do tempo. A confiança requer um histórico. Se alguém o magoa repetidamente, Deus ordena que você perdoe-o instantaneamente, mas não se espera que você confie nele imediatamente e não se espera que continue permitindo que ele o machuque.”
Isso não significa que você pode se agarrar a isso como um trunfo e jogá-lo sempre que puder. Isso vai totalmente contra o ponto de Jesus de “setenta vezes sete”. Mas lembre-se, Deus lhe perdoou mais vezes do que você jamais terá a oportunidade de perdoar seu cônjuge.
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